Esse texto ganhará um formato diferente. Nada de original, mas inspirado no programa da Tv Cultura, provocações. Busca-se induzir no leitor uma compreensão da importância de um comportamento reflexivo que não se costuma ter nos assuntos financeiros. Desse modo, simularemos em uma entrevista o impacto que a reflexão tem sobre as certezas ocultas ou declaradas que fazem parte do nosso conjunto inicial de crenças no tratamento de nossas finanças.
No mais puro platonismo, de conhecer-te a ti mesmo, por meio de perguntas, a entrevista contará com um inconveniente entrevistador, o provocador, e um ingênuo entrevistado, o vítima. O tema da entrevista é a riqueza.
Começa a entrevista. As luzes se ascendem. As personagens tomam seus lugares. O entrevistado reflete seu otimismo com as respostas em seu semblante, para as perguntas que ainda nem sabe. O entrevistador carrega, ao contrário, a frieza de um semblante sem emoção aparente.
Entrevistador – sem hesitar e direto: O que é a riqueza?
Entrevistado – firme: Riqueza é o conjunto de bens e direitos possuídos por uma pessoa, que proporciona valor a quem os possui.
Entrevistador: O que é a riqueza?
Entrevistado – um pouco confuso: Riqueza é a posse de um conjunto de ativos que gera fluxos de renda no tempo.
Entrevistador: O que é a riqueza?
Entrevistado – tentando entender a pegadinha: Riqueza… hum… é a capacidade de… acumular… bens passíveis de transacionar por outros bens igualmente valorados pela sociedade.
Entrevistador: O que é a riqueza?
Entrevistado – confuso: kkkkk Riqueza é o quanto se pode comprar?!
Entrevistador: O que é a riqueza?
Entrevistado – a confiança se tornou constrangimento: Não, espera aí.. É a soma dos valores presentes dos fluxos de renda, distribuídos no tempo.
Entrevistador: O que é a riqueza?
Entrevistado – atordoado: Riqueza, riqueza é poder!
Entrevistador: O que é a riqueza?
Entrevistado: Riqueza é saúde. Afinal, só se pode ter e acumular, bem como aproveitar com a saúde em dias.
Entrevistador: O que é a riqueza?
Entrevistado – tentando entender o que o entrevistador busca: … ?!… hum… É a qualidade do tempo gasto consigo e com os seus. Riqueza é experiências…..
Entrevistador: O que é a riqueza?
Entrevistado – impaciente e reflexivo: kkk Veja bem… Riqueza é a capacidade de viver no que os gregos chamavam de ócio. A liberdade de se buscar a verdade da existência, a criatividade… É isso! Riqueza é liberdade.
Entrevistador – com um sorriso tímido: Bem, quando as respostas vão se tornando conceitos abstratos, eu costumo parar a entrevista. Foi bom o tê-lo aqui.
A entrevista se encerra.
As provocações têm o potencial de abranger as respostas. Quase sempre as refinando numa síntese, que mistura elementos de cada uma delas. Levando a uma conclusão específica para aquele momento. Cada resposta poderia, então, ser vista como perspectivas diferentes da totalidade do objeto da pergunta. Porém, com a desvantagem de não trazer a certeza da sua exatidão. Assim, provocações são processos repetitivos que buscam se aproximar mais e mais daquela exatidão, quase sempre, inalcançável.
As provocações tem outro elemento igualmente importante. Elas põem luz às crenças, principalmente aquelas que são sentidas, mas não declaradas. Oficializam-nas, portanto. Isto é, retiram-nas das áreas cinzentas das ideias e trazem para o pensamento consciente, estruturado e concreto.
Por fim, provocar-se ou ser provocado permite ao indivíduo uma melhor alocação de esforços e tempo em propósitos mais claro e objetivo, diminuindo o risco do arrependimento de ter alcançado algo que não correspondeu com as expectativas iniciais ou teve um custo alto demais ao inicialmente esperado tal como observado naqueles que ao buscar a riqueza e atingindo-a, se viram sem a saúde ou a família.
Já se provocou?
Texto: Yuri Mourão – Especialista em Finanças e Controladoria – Ibmec Business School