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sábado, 23 novembro 2024
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Troca-troca: pensou nisso?

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Por Yuri Mourão *

Não é incomum pensar em seus gastos dentro do orçamento como um fluxo de caixa que se estende num intervalo, algumas vezes, indeterminado de tempo. Se você nunca pensou por esse ângulo, é bom pensar; porque dá uns insigthsinteressantes na gestão de suas finanças. Por exemplo, os gastos com alimentação fora de casa podem se estender por períodos muito longos, dependendo do estilo de vida e característica laboral. Esse hábito se estável no tempo e havendo meios alternativos de satisfazê-lo, é possível escolher dentre alternativas como, por exemplo, fazer sua própria marmita. Isso nada mais é uma escolha entre tipos e níveis diferentes de fluxo de caixa. E essa escolha, com certeza, trará impacto financeiro de curto (variação da despesa dentro do orçamento) e de longo prazos (consequências sobre opatrimônio familiar). 

É curioso pensar que, quando se abre essa nova dimensão na análise financeira das famílias (o longo prazo), novos conceitos e possibilidades se apresentam. Um exemplo: o poder dos juros compostos. Contudo, lembremos que nem sempre as escolhas entre fluxos de caixa são tão óbvias como escolher entre comer fora ou fazer a própria refeição; além disso, pode haver a necessidade de efetuarmos gastos iniciais para abrirmos a possibilidade de aproveitar novos fluxos de caixa. E esse artigo, não por coincidência, se baseia nessa visão.

Aqui iremos, então, procurar observar se há viabilidade econômica em trocar o fluxo de caixa da matriz convencional de energia elétrica pela a nova matriz de energia solar. Assim, estaríamos trocando a conta de energia elétrica mensal por uma economia gerada pela produção solar de energia. A princípio, poderia soar como óbvio a decisão; ora é claro que qualquer economia em nossos gastos mensais é viável. Sabemos, porém, que investimentos iniciais deverão ser feitos e isso já é o bastante para gerar uma precaução na tomada de decisão. Será que pelo investimento feito, a economia gerada compensará? Será que há melhores alternativas para aplicarmos esse capital todo?

Para responder tais questões, procuraremos usar a cartilha tradicional de análise econômica dos livros textos de finanças. Ressaltamos, e isso é interessante, que a base do estudo deste artigo é fundamentada numa proposta real de instalação de painéis solares que, evidentemente, se embasaram em estimativas de consumo elétrico real.

Dos dados técnicos 

O cliente apresenta, na data da avaliação pelo prestador de serviços, o seguinte consumo mensal de energia elétrica.

Dados atuais
 MêsAno
Consumo médio (kWh)487              5.844 
Custo energiaR$              380,00 R$    4.560,00 
custo por KWH/mR$              0,7803 R$       9,3634 

Perceba que o gasto anual de energia efetuado é de R$ 4.560,00, isto é, a família costuma gastar cerca de R$ 380,00 por mês com eletricidade. Um valor considerável, e que nós não costumamos perceber, nessas bases. 

A proposta técnica do investimento, ou seja, a sua capacidade de produção de energia por meio da energia solar é apresentada a seguir.

Dados da produção solar
 MêsAno
Capacidade de produção solar (kWh)437              5.244 
Capacidade de produção solar (%)90%90%
Perda de eficiência                       0,00 0,007

Por esses dados, é notado que a energia solar produzida corresponde um total de 90% do consumo habitual da família, isto é, se produz quase a totalidade que se consome. Ficando, ainda, dependente de uma pequena fração da matriz energética convencional. Essa dependência corresponde a um custo anual de R$ 468,00, uma queda de 90% dos gastos. Uma redução nada desprezível.

Também é previsto a perda de eficiência de produção de energia no patamar de 0,7% ao ano. Este dado é relevante para as estimativas de fluxo de caixa futuro.

Dos dados do investimento inicial

Nesta seção veremos os dados do investimento como, por exemplo, os custos iniciais, o fluxo de caixa da economia gerada, o tempo de vida útil dos equipamentos e etc.Observem no quadro abaixo as informações relevantes do investimento.

Dados econômicos
 MêsAno
EconomiaR$              341,00 R$    4.092,00 
Inflação energia (prevista)                       0,01 0,08
Vida útil                   300,00 25
Investimento inicial-R$           1.870,59 -R$  22.447,08 
Custo de oportunidade-R$           2.824,90 -R$  33.898,84 

Em primeiro lugar, note que a economia gerada no primeiro ano corresponde a R$ 4.092,00; este, portanto, é a nova entrada de recursos que estimamos obter com a instalação do equipamento. De outro modo, a economia mensal nos gastos de energia está no patamar de R$ 341,00 e consideraremos, como princípio para a análise, que esse valor é equivalente a uma nova receita como, por exemplo, uma promoção no trabalho. 

Perceba, também, que houve o interesse de incluir a estimativa da inflação prevista para a conta de luz. Pelos cálculos do prestador de serviços, a inflação situará em torno de 8% ao ano e, por simplificação, será a mesma para todo o período.

Apresentamos, assim, o fluxo de caixa projetado para toda a vida útil do investimento.

Ano12N2425
Valores Nominais R$           4.091,83 R$    4.419,17 … R$    24.025,02 R$      25.947,02 

Ao considerar tratar a inflação desse modo no fluxo de caixa, ele acaba gerando uns valores incompreensíveis, como exemplo, observe o fluxo no ano 25. É difícil pensar que no ano de 2.045 a conta de energia, em valores nominais, valerá, aproximadamente, R$ 2.162,25 por mês. Por ser uma proposta comercial, acreditamos que essa simplificação no tratamento inflacionário é prejudicial ao cliente. Mas por efeitos didáticos, manteremos esta premissa.

Antes de passar para o próximo ponto, acreditamos que o investimento em um projeto de substituição de matriz energética é de baixíssimo risco, até mesmo livre de risco, por acreditar que seus fluxos de caixa serão constantes e quase certos. 

Assim, o próximo ponto, devemos considerar o custo de oportunidade, e este é uma das exigências da análise econômica. Por custo de oportunidade, queremos dizer a segunda melhor alternativa de investimento que estaria a nossa disposição, pelo mesmo capital aplicado, com risco equiparável. Portanto, estimamos que a segunda melhor opção fosse aplicar o capital em um CDB com 90% do CDI com rating AAA ou AA ou ainda A.

Assim, se investimos num produto com aquelas características, assumindo a manutenção do CDI nos mesmos patamares do de 2020, teríamos no final dos 25 anos juros acumulados no valor de R$ 33.898,84. Este é o nosso custo de oportunidade. Veja abaixo as premissas do calculo do custo de oportunidade.

Produto                    Taxas
CDB 90% do CDI3,36%
CDI3,74%

Portanto, concluímos que o capital total necessário para análise econômica é R$ 56.345,92, pois cobre tanto o capital necessário para implantarmos os painéis solares quanto aoportunidade perdida em investir num produto financeiro como o CDB.

Da analise de viabilidade econômica

Nesta seção partimos para a análise propriamente dita. Apresentamos os dados relevantes e prosseguiremos.

O fluxo de caixa apresentado na seção anterior precisa ainda ser revisto, pois temos que considerar a perda de eficiência anual que foi prevista de 0,7% ao ano, pelo prestador de serviços (veja na seção dos dados técnicos). Evidenciaremos agora uma premissa que até então estava oculta: a geração de energia solar será total e completamente consumida pela família; não haverá, portanto, a possibilidade de vender excessos de produção energética.

Desse jeito, a fluxo de caixa para análise é o apresentado abaixo.

Ano12N2425
Valores Nominais R$   4.091,83 R$  4.388,24 … R$  23.856,84 R$ 25.765,39 

Os dados adicionais que utilizaremos estão listados abaixo.

Dados para análise
Investimento Total-R$            56.345,92 
Prazo do investimento25 anos
Taxa de desconto7,50%

Para revisarmos, o investimento total é a soma do investimento necessário do projeto e o seu custo de oportunidade. A taxa de desconto é a taxa referente a um ativo livre de risco, usamos a mesma do CDB 90% CDI, adicionado a inflação meta do Brasil para 2020, de 4% ao ano. Ainda sobre a taxa de desconto; assumiremos, por simplicidade, que ela se manterá por todo o prazo de aplicação.

Com todos esses dados em mãos, procederemos com a análise de viabilidade econômica pelo método do VPL, da TIR, do payback (PB) e do payback descontada (PBD). Observe o resultado na tabela abaixo.

Resultado da análise
IndicadoresResultados
VPLR$ 43.662,76 
TIR 12,76%
PB6,9
PBD15,5

Pelos resultados apresentados, o projeto se apresentou viável do ponto de vista econômico. Ele consegue criar riqueza superior ao seu custo de capital e de oportunidade no valor de R$ 43.662,76, isto é, em toda a sua vida útil, ele vai retornar R$ 100.008,68 (soma do investimento total e do vpl). Em aspecto de lucratividade, isso significa uma taxa de 2,31% ao ano.

A TIR, taxa interna de retorno, reflete até que patamar a taxa de desconto pode se elevar se tornar o projeto inviável. Assim, o retorno exigido pelo investidor poderia se elevar até 12,76% que o projeto, no máximo, não destruiria valor. De outro modo, podemos vê-lo como a gordura do investimento.

Os indicadores de payback mostram o tempo médio que o capital investido será retornado. Na nossa análise, ele retornará em 6 anos e nove meses se não considerarmos o valor do dinheiro no tempo. Porém, é economicamente mais correto considerar que o dinheiro tem valor no tempo, por isso o payback descontado (PBD) tem uma importância relativa maior ao payback normal (PB). Dito isso, o projeto retornará o investimento total, R$ 56.345,92, em 15 anos e cinco meses.

Sobre o vpl, e também a TIR, para seu retorno seja verificado na prática é preciso reinvestir os fluxos de caixa a sua respectiva taxa de desconto. Percebemos que não há nenhum investimento seguro que remunere 7,5% ao ano no mercado, na data desse relatório. Este é um tipo de risco conhecido no mercado como risco da taxa de reinvestimento. Por essa razão, decidiríamos reinvestir os fluxos de caixa no próprio CDB remunerando 3,36%.

Se assim o fizermos, teríamos no final de 24 anos um patrimônio acumulado de R$ 399.851,89.

Devemos, portanto, aplicar nosso dinheiro numa mudança da matriz energética? Tudo sugere que sim.

Comparações do projeto

Fazendo um adendo, estas comparações não têm validade conceitual nem prática como critério de seleção, pois são ativos de natureza de risco diferentes. Consideramos incluí-las só para exercício didático e para dar uma certareferência. 

Feita essas considerações, observe a tabela comparativa abaixo.

Comparações entre ativosPrazo médio de retorno do capital aplicado (em anos)Rentabilidade (% ao ano)
Nova matriz energética15,52,31
CDB 90% CDI4,83,36
BBSA34,7518,10
WEG349,218,28
Mediana da cesta de ações8,1518,19

Antes de comentarmos, faremos uma breve apreciação dos motivos da escolha desses ativos, sobretudo os da renda variável (ações). 

Apesar das ações, em geral, serem alternativas de investimentos mais arriscadas do que a nossa proposta de investimento, dentre elas existem aquelas reconhecidamente mais seguras; estas são as chamadas blue chips. E isso é devido por serem empresas consolidadas, lideres de mercado, com lucros recorrentes e, de certo modo, estáveis no tempo. Geralmente, as bluechips brasileiras podem ser encontradas no índice bovespa.

Assim, por essa característica, consideramos colocá-las aqui. O critério de inclusão foi as 10 primeiras companhias listadas no índice Bovespa segundo a sua composição nessa carteira. Na tabela, evidenciamos apenas aquelas que tiveram o menor e o maior P/L. O P/L é conhecido como uma medida do prazo médio de retorno do capital investido. 

A alternativa, das citadas na tabela, mais comparável com a nossa proposta é o CDB, mas ela perde precisão quando consideramos para comparação a taxa de retorno. Isso se deve, pois a taxa do CDB é um retorno total, e a taxa da nossa proposta é uma rentabilidade parcial (considera apenas a soma dos valores presentes do fluxo de caixa).

A única comparação absoluta que podemos fazer, então, é no prazo médio de retorno do nosso projeto com o CDB. O capital aplicado no CDB retorno bem mais rápido do que o do nosso projeto, quase 4 vezes mais rápido. Contudo, isso é mais do que compensado com a maior rentabilidade do nosso projeto, em uma conta superficial, podemos dizer que nosso projeto retorna 9,82% ao ano.

As ações, em sua mediana, retornam o capital aplicado também bem mais rápido, mas perceba que todo investimento tem um prazo de maturidade, e este tende a ser bastante longo. Investimentos que retornam rapidamente costumam ser algum tipo de golpe.

Conclusão

O projeto é economicamente viável, mas recomendamos com ressalvas. Precisamos ter dados mais precisos sobre os fluxos de caixa, além de mais informações sobre esses valores estimados pelo prestador. Consideramos imprudente assumir uma taxa de inflação energética de 8% ao ano e sua manutenção ao longo do investimento. Metodologias de estimação mais condizentes deveriam ser feitas ou, na ausência desta, sempre deveríamos nos embasar no conservadorismo. 

O resumo dos resultados é apresentado a seguir.

Resumo do estudo
Medidas econômicasValores
VPLR$      43.662,76 
TIR12,76%
PBD15,5
Lucratividade2,31%
Patrimônio AcumuladoR$    399.851,89 

*Especialista em Finanças e Controladoria – Ibmec Business School

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